domingo, 6 de novembro de 2011

Walmor Corrêa - EXPOSIÇÃO METAMORFOSES E HETEROGONIAS




O fantástico presente na infância de Walmor Corrêa.
Por Murilo Perim

            A fantasia permite uma concepção criativa ilimitada, é como brincar de fazer tudo, ser tudo... um momento onde a vida deixa de ter limites. E isso é bom, pois são tais limites que causam tédio e cansaço, e talvez por isso o fantástico fascine tanto crianças e, mesmo, muitos jovens e adultos. Pensando deste modo, há claros motivos para ligar a infância do artista Walmor Corrêa a suas obras, e sendo assim, apresentar suas histórias àqueles que irão apreciar seus seres fantásticos.
            Num passado repleto de criatividade, há três histórias das quais fala Walmor, e as quais, obviamente, tiveram importância fundamental para seu trabalho.
            A primeira delas trata-se do “empurrão” inicial que recebera de seu pai, o qual, talvez, seja aquele que despertou sua mente para sua visão peculiar do mundo. Quando pequeno, Walmor, era muito curioso e “gostava do que era diferente, surpreendente”, tinha mais vontade em saber como eram seus brinquedos por dentro do que realmente brincar com eles. Nesta sua curiosidade demasiada, um fato o marcou mais. Seu pai possuía uma fazenda, e quando estavam por lá, acompanhava-o nos trabalhos com gado (lavar e vacinar, por exemplo). Entretanto, como questionava seu pai sobre quase tudo, em certos momentos ele lhe dizia: “Vai lá atrás daquele morro e vê o bicho que tem lá. Ele põe um ovo dourado”. A conseqüência, Walmor diz belamente: “E eu ia. É claro que eu não via esse ovo dourado, mas eu imaginava... O curioso é que eu não me lembro de voltar daqueles passeios furioso com o meu pai. Acho que, pelo contrário, o passeio era muito rico, e eu realmente via muita coisa. Na verdade, eu imaginava sem parar...”
            Outro fato que marcou os trabalhos de Walmor, talvez seja ainda mais interessante, pois trata da natureza contradizendo a ciência[1], provando que o fantástico é realmente maravilhoso, mas não impossível. Existe o chamado Número de Reynolds, uma fórmula matemática que diz o que pode ou não voar. Tudo que sabemos que voa é atestado por essa fórmula, menos o besouro, que contraria a física e a aerodinâmica. Para o artista, houve uma relação grande com sua vida pessoal: “me vi como um besouro. (...) Eu conseguia produzir. Tudo conspirava para que eu não conseguisse; as coisas estavam programadas para não funcionar, mas, em certa medida, estavam funcionando. Eu estava voando, tal como o besouro.
            A terceira trata de um fato mais recente. Após a comprovação de biólogos de que os insetos bicho-pau haviam perdido as asas e, posteriormente, tinham-nas recuperado, nas palavras de Walmor, “"Impossível! Impossível! Fora a frase dita por entomologistas”. A partir disto, um pensamento interessante tomou-o: “até que ponto o saber abraça a enorme diversidade de fenômenos do mundo natural. Acredito que a arte me possibilita compreender as perguntas que sempre permearam a minha vida, sobretudo a minha infância. Por meio da arte, posso abrir os olhos e realizar o mundo como penso que ele poderia ser, como ele se apresenta para mim, construindo uma natureza fantástica que desconhece a própria impossibilidade. (...)Só a arte pode transcender conceitos e revisar códigos rígidos e, por fim, só ela pode gritar: "Possível! Possível!"
            Numa infância onde Walmor imaginava que pássaros entravam nos buracos em árvores, para depois saírem por aqueles em terra na forma de tatu; uma criatividade ilimitada evoluiu por anos, até ganhar forma num despertar artístico. Mas não podemos no esquecer, tudo teve inicio na infância.


[1] Opondo-se em certa medida a racionalidade e a verdade científica.